21/11/2016

MANDRÁGORAS - POR CÉLIA MOTTA


Eis que o sol se recolhe e desce firme a escuridão.  Enxergo-me dentro de seus olhos e sinto a minha alma na palma das suas mãos. Nossos corações sabem que cruzaremos um portal único, rumo ao passado. Ao nosso passado. Ao nosso lugar.
Nossos sentidos serão todos despertados ao mesmo tempo pela sua alma! E pela alma minha! Cumplicidade extrema! Mágica! Passos incertos nos conduzem à diáfana e tênue muralha, cortina dos tempos, e conseguimos avistar lampejos de uma estranha luz. Encontramos o nosso portal... E ousamos atravessá-lo... estranhas luzes se mostram agora aos nossos sedentos olhos e ansiosos corpos. Nostálgica e lúdica lembrança reaviva-se em nós e entregamo-nos ao estranho campo de flores azuis e folhas iluminadas; forte odor encantado nos alucina e transporta-nos em velocidade desconhecida, para longínquas memórias de amor e súplicas.
Vejo magos!
Você contempla místicas ninfas!
E eles entonam misteriosas melodias gesticulando à nossa volta, meninas em asas de borboletas! Vozes gregorianas em um mantra sedutor! Santa heresia!
Sentimos abruptamente a necessidade do contato com a terra mãe! Terra que tudo abriga! Terra que guarda vivos e mortos! Terra do bem! Terra do mal!
O forte e inebriante odor intensifica-se à medida em que nos abaixamos para beijar e reverenciar a nossa terra. Nossas almas se desprendem de nossos corpos que dançam o mantra respirando delicados ópios, e voa... Voa... Espíritos girantes em desordenada pulsação.
Sentimos o contato úmido e abençoado da mãe natureza que tudo vê e tudo sabe; agora conseguimos ver a luminosidade dos caules das sutis flores azuis: são mandrágoras florescendo e tocando as nossas pedintes e suplicantes mãos espirituais. Mandrágoras vivas! Raízes mágicas que se misturam aos nossos seres.
O êxtase aproxima-se de nós e estamos iluminados pelas folhas de mandrágora em luz, estamos absorvidos e engolidos pelo odor das mandrágoras em vivo furor. As raízes encantadas e parcialmente humanas reverenciam a natureza e desenterram-se em loucos movimentos.
Explodimos na intensidade do ponto exato onde encontram-se “o tudo” e “o nada”, o ponto onde cruzam-se as trevas e a luz, as maldições e as bênçãos divinais! O início e o fim! Já não nos importa o certo ou o errado, posto que não existe. Já não se separa quem sou eu e quem é você, posto que somos um a misturar-se com as profundas e profanas raízes de mandrágoras, mestras dos portais da alma...
Vemos um céu violeta que a ofuscar a paisagem negra da noite florescendo mandrágoras azuis; tudo brilha e vive!
Ouvimos os ensurdecedores gritos das raízes que vivem no campo mágico, misturando-se às nossas almas;
Sua pele! Minha pele! Tudo são raízes! E as raízes somos nós! Envolvidos e revestidos da úmida e sagrada terra; desenterrando tudo de nós e das mandrágoras mestras;
O forte odor das raízes que gritam, agora nos parece suave perfume a rodopiar em ciranda e comunhão conosco; toda a paisagem muda de lugar invertendo espaços e vertendo sonhos;
Percebemos sabores de nossas bocas, desconhecidos até então!
Simbiose alucinógena em mandrágoras a florescer tons de azuis...
Sedação de perfumes de mandrágoras em ópios que flutuam...
Rituais de almas amantes e suplicantes às mandrágoras de memórias medievais...
Banhados pela lua em céus de violeta a cobrir-nos, nós e as mandrágoras...
Renascidos e cúmplices de tantos segredos mágicos! De tantos tempos passados!
Guardiões de secretos campos!
Ouvintes de ninfas e magos! Desfazendo-se em amor!


CÉLIA MOTTA

PATRIOTA POR WILSON ROBERTO DE ALMEIDA




                Num passado não muito distante, crianças levavam a mão ao peito pra cantar o hino nacional, Hoje a mão é levada ao peito pra dizer (é nois na fita, é nois mano).
                     O hino mais cantado é o hino do Corinthians, e a música mais cantada e dançada é o funk.             
              O hino Nacional não é cantado ele é murmurado.     

              Tudo isso veio guardado dentro de um pacote cheio de engodos com o nome de DEMOCRACIA PLENA E ABSOLUTA.



                                                                                        Wilson Roberto de Almeida

18/10/2016

GUARDIÕES DA SABEDORIA:

            

              
 

           
Já houve um tempo onde essas pessoas eram chamadas de mestres.   Pessoas que davam tudo de si pela cultura de um povo, eles iniciavam as crianças para a vida. De mestres passaram a meros funcionários públicos que com seus míseros vencimentos tentam viver com dignidade.A profissão tida como a mais nobre, e a mais pobre, esses profissionais formam médicos, engenheiros intelectuais e mais uma infinidade de profissionais, e quando se aposentam na maioria das vezes recebendo patacões ( moeda imperial ) como ajuda de custo.O Rei e seus agregados esquecem que eles um dia foram iniciados na vida por esses guardiões da cultura.Esses semeadores de cultura, e colhedores de ingratidão.         

                                    

                                               
                                                                WILSON  ROBERTO DE ALMEIDA

19/08/2016

HOSPITAL DE SÃO MANUEL - UMA HISTÓRIA SEM FIM

“E foi assim que, ás 2 horas da tarde desse 20 de setembro de 1903, na sala de conferencia da Irmandade São Vicente de Paulo, Igreja Matriz, reuniu-se um punhado de cidadãos amigos de sua terra, beneméritos de sua gente para tornar em realidade o sonho de há muito acalentado.” Trecho retirado do jornal são-manuelense A Folha sobre matéria escrita do hospital em 1 de janeiro de 1932, naquela tarde, de 1903, reuniram-se os senhores Vicente Soares, Dr. Jose Augusto Pereira e Rezende, Frederico da Mota Macedo, Benjamim Lobo, Roque Godinho, Jose da Cunha Pompeu, Luis Augusto de Campos Melo, Vitorino Barbosa Junior, Dr. Luiz Augusto Teixeira de Assunção, Francisco Egídio do Amaral, Dr. Godofredo Winken, Antonio Manoel Garcia Braga, Plínio Caneple, Porfírio Antunes Oliveira, João Lourenço de Siqueira, por procuração foram representados os senhores Francisco Salles, Dr. João Paulo Correia de Oliveira, Inácio Pupo, e Antônio Emídio de Barros.
Tal reunião presidida a época por Luiz Teixeira de Assunção que no momento expos os motivos: “(...) fundar um estabelecimento de caridade, cuja a falta São Manuel se ressentia enormemente e não poderia mais prescindir.” Assim foi imediatamente aprovado e escolhido o nome nesta reunião ficou Casa Pia São Vicente de Paulo. O presidente Dr. Assunção que já em muitas reuniões da irmandade na sala de conferencia “passou a ler o projeto de estatutos por ele cuidadosamente organizado com carinho que costumava a emprestar a todas as reuniões”. Foi eleita a primeira diretoria do hospital que foi: Presidente Dr. Luiz Teixeira de Assunção; Vice-presidente Dr. Jose A. Pereira de Rezende; Secretário Dr. João Paulo C. de Oliveira; Tesoureira Frederico da Mota Macedo; Provedor Manuel Garcia Braga.           

Desta forma foi criado um livro de ouro para angariar fundos para a construção do hospital onde ficou consignado neste os doadores de grandes porções em dinheiro como: Vicente Soares de Barros, Francisco Egídio do Amaral, Manuel Garcia Braga, Barros & Cia, Antônio Martins, Frederico da Mota Macedo, José Sampaio Góes, Ignácio da Silveira Pupo, Salles Toledo & Cia, Coronel Virgílio Rodrigues Alves, Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, H. de Almeida Pirca, Lupércio T. de Camargo, João Sampaio, Luiz A. Teixeira de Assunção, Vitor Martins de Almeida, Elizeu Augusto Teixeira, Alice Martins de Almeida, Marina Martins de Almeida, Dulce Marins de Almeida, José de Meira Leite, Sebastiana L de Barros, Dr. G. M. de Almeida e João Evangelista da Cruz.
Ao começar esta maravilhosa história pelo meio demonstramos que cidadãos de São Manuel se pautam e sempre se pautaram pela constante construção da cidade, na verdade a saga do hospital do município foi idealizada desde os primórdios. A Irmandade São Vicente de Paulo oficializou realmente este desejo na data de 20 de setembro de 1903, no entanto tal esforço começou muito antes no longínquo ano de 1896, neste período a cidade possuía uma população substancial com aproximadamente quatrocentas residências, com mais de dois mil habitantes morando na cidade e com um número maior de pessoas morando na zona rural.
Com a crescente colonização das terras foi sugerido pelo Doutor Eliakim Tavares Ferrão a construção de um hospital na cidade. Tal sugestão foi descrita em um manifesto subscrito por Eliakim, Doutor João Nogueira Jaguaribe e Raul da Silva que colocava a ideia e pedia recursos para o feito, o que foi prontamente atendido pela sociedade, a circular emitida por estes cidadãos dizia:
CIRCULAR
Illm. E Exm. Sr.
Os abaixo assignados, convictos da necessidade de ser construído nesta cidade, um prédio para nelle serem tratados os enfermos, sem excepção de nacionalidades, que por falta de recursos não tenham agasalho regular e nem meios de tratamento, isto é uma CASA DE MISERICORDIA – tomam a liberdade de dirigir-se á V. Ex.,pedindo um auxílio, quer seja em dinheiro, ou em materiaes, afim de ser levada a realidade a idéa, cuja a importância os abaixo assignados deixam ao esclarecimento critério de V. Ex. Outro sim, como não existiam subscrições, esperam os abaixo assignados, que V. Ex. se dignará depositar em mãos sod Srs. Garcia Braga & Cmp., Toledo & Irmão, Frederico da Motta Macedo, Oliveira & Barros ou Sanseverino & Oliva a quantia com a qual o espirito caridoso de V. Ex. quizer concorrer para aquelle humanitário fim, devendo os materiaes serem entregues a qualquer  dos abaixo assignados; é isto até o dia 30 de Dezembro, visto desejarem dar começo á construção nos princípios do anno próximo.”.        
 Logo a Irmandade Casa Pia recebia donativos em dinheiro, carros de pedras e terras, os funcionários da Cia Sorocabana também ajudaram neste intuído enviando por telegrafo a todos o seguinte: “SR.
Communico-vos que, com meus colegas de escriptorio, vamos iniciar um abaixo assignado que percorrerá até o Porto Martins, isto é, no percirso comprehendido  da linha São Manoel.
O fim desse abaixo assinado é angariar uma somma qualquer para a Casa Pia- A nossa Santa Casa.
Em occasião oportuna avisar-vos-hei sobre o resultado obtido e nessa ocasião escolheremos de nossos colegas, um, para fazer a entrega das assignaturas a illustre Commissão da Santa Casa.   
Com estimas e etc.
Benedito Dias Dos Santos
Telegraphista Bagageiro”

A imprensa de São Manuel através do Jornal O Município que tinha como redator o Dr João Nogueira Jaguaribe publica 11 de novembro de 1896 um manifesto em primeira página transcrito pelo senhor Raul da Silva que aduzia:
“APELLO AO POVO
SOCORRO AOS INFELIZES
HOSPITAL DE MIZERICORDIA

Com o intuito humanitário de minorar os padecimentos dos deserdados da fortuna, fazemos hoje um appello aos generosos corações dos habitantes deste município esperando que não sejam infrutíferos os esforços quando compungidos pelos sofrimentos alheios pedindo que nos auxiliem, vindo cooperar na piedosa obra de caridade.
Há muito já que se salienta em S. Manoel do Paraizo a necessidade de creação de um estabelecimento de caridade para o tratamento de enfermos pobres; e, na compreensão a mais absoluta de tal necessidade, o cidadão Eliakim Tavares Ferrão lembrou a idéa de se erigir uma casa em logar apropriado e em condições de satisfazer a hygiene, encarregando-nos de dar puplicidade á sua boníssima idéa; e, nós, embora incompententes e obscuros publicistas, abraçámos fervorosamente o projecto do cidadão Eliakim e contribuiremos com a melhor boa intenção para tal se torne realidade.
Em circulares dirigidas pessoalmente a todos os habitantes do município de cidadão Eliakim, serão expostos não só o plano do edifício a construir, como também o modo pelo qual será levado a efeito aquelle desideratum.
Estamos certos de que, nem um dos dignos cavalheiros componentes desta briosa, patriótica, illustrada, distincta e benemérita sociedade são manuelense se recusará a prestar o seu valiosíssimo concurso para a realização da meretisima ideia.
(Pedaço multildado)... que se acham os indivíduos enfermos que tiravam apenas de seu trabalho quotidiano o indispensável á subsistência de sua família; quantas vezes dentro de uma habitação (...) se desenrola o quadro pungentíssimo de uma família inteira padecendo os horrores da nudez e da fome, porque o chefe dessa família, o pai d´umas creanças que ali estão abandonadas a mais pavorosa penúria, se acham enfermo em triste e miserável leito curtindo dores e coberto por negros farrapos!!!. E tudo isso porque!? Porque apesar de todo o nosso progresso moral e material ninguém cogitou de fazer suavizar os padecimentos desses infelizes!!.
O quadro de vimos de pintar, não é uma ficção para calar vossas almas, é pelo contrário um desenho simplesmente verdadeiro e que vos podeis observar de si se penetrardes nas rusticas choupanas onde a indigência fez sua morada permanente.
Além disso, quantos factos idênticos se realizam, neste município e que passam inteiramente ignorados por toda população? Quantos padeceram, padecem e padecerão as maiores privações porque não temos hospital!?
Nas fazendas mesmo que em geral os fazendeiros são compassivos e dedicados pelos seus colonos, nem sempre os enfermos têm os recursos médicos nos momentos graves, nem tampouco a hygiene imprescindivel.
Ora, si tivermos um hospital de caridade próximo de recursos e entregue a uma direção solícita, poderemos indubitavelmente descansar em relação a sorte que terão os nossos enfermos pobres.
Por isso e mais porque confiamos em absoluto na magnanimidade dos corações dos habitantes desta comarca, fazemos o presente appello de que pobres e ricos trarão sua pedra para a confecção do hospital de misericórdia, que será para os vindouros uma página (...) do caratês altruístico do actual povo são manuelense.”
Devemos aqui informar que os idealizadores da campanha pleitearam verbas Junto ao Congresso do Estado que no primeiro momento não foi atendido, a propositura em incluir a construção da casa de misericórdia na votação do orçamento caiu em terceira votação, “o que é de lastimar porque as eleições, apresentando-se tanta gente interessada no seu resultado, nos auxílios a localidade e as instituições de caridade nada faz.” Comentário do Jornal O Munícipio em 13 dezembro de 1896 ressaltando ainda que Botucatu obteve para o mesmo fim um montante de “vinte contos”, no entanto no ano seguinte em 1897 conseguiram a tão desejada verba de cinco contos de reis.
Criada a Irmandade São Vicente de Paulo onde seus membros percorreram toda a extensão do município a cavalo, a pé e de trole conseguindo donativos para fazer caixa para o início das obras, no mesmo ano houve uma crise do café e uma sensível baixa de preços, assim com esta crise e sendo São Manuel um dos maiores plantadores de café do Estado o sonho foi protelado e retomado em 1903.
Em 1903 a irmandade já tinha o suficiente para a construção da Casa Pia, na época o senhor Ignácio Pupo fez a doação de todo o madeiramento para a feitura da obra. 
O Hospital da Casa Pia de São Manuel foi inaugurado em 19 de agosto de 1906, através de uma procissão que percorria as ruas da cidade trazendo no andor a imagem de São Vicente de Paulo, nobre padroeiro do local.
  
 FOTOS DA PROCISSÃO E INAUGURAÇÃO DO 1º HOSPITAL 1906

 
  
  
 
 

 Foi no período uma grande conquista para o município. Seu primeiro paciente foi Constantino J. Mattos, com afecção broncopnemônica recebendo alta treze dias após sua internação.”Foi assim que, entre os receios da morte que o mal lhe sugeria e as venturas do restabelecimento da saúde, o Constantino inaugurava, dando provas de sua eficiência, o primeiro estabelecimento hospitalar de S. Manoel” Jornal A Folha 1 de janeiro de 1932

A direção do hospital foi entregue ao Dr. Joaquim Baptista da Costa que era um renomado médico da época que residia no município desde 1892, o corpo clinico da instituição era composto pelos senhores Dr. Godofredo Winken, Dr. Cincinato Pamponet, Dr. Ernesto Criciúma de Figueiredo. Dr. Jose Augusto Pereira de Rezende, Dr. Júlio Attilio Salarolli e Dr. Braz Imparato. Sucedendo ao Dr. Joaquim Baptista da Costa, assumiu o cargo de diretor o médico pediatra Dr. Gentil Pacheco, sendo posteriormente substituído pelo Dr. Nilo Lisboa Chavasco, eminente cirurgião. Em junho 1916 através de um convenio assinado, foi decidido entregar o serviço de enfermagem ás irmãs de Caridade da Imaculada Conceição. Em assembleia de 28 de janeiro de 1917 foi a diretoria autorizada a construir um pavilhão para os aposentos das irmãs iniciando assim neste período a construção e tais bem como de uma farmácia para a entidade

  
Com o crescimento do hospital as necessidades também aumentaram e o local ficou pequeno, precisando de uma local maior vez que não atendia mais a população satisfatoriamente. Era classificado em 1933 como um prédio antigo, mal dividido e mal construído, “muito deixavam a desejar, todas as suas dependências. Foi por esse motivo, que a nova directoria, após meticuloso estudo deliberou construir um novo prédio.” Jornal o Liberal 1 de janeiro de 1933. No entanto, devo ressaltar aqui exagero de tal redator, talvez na justificativa da construção de um novo prédio, deveria depreciar o existente, relatos descrevem ao contrário, o Jornal o Movimento publica em 18 de março de 1928 o seguinte: “O Hospital S. Vicente de Paulo, benemérita instituição de caridade local, que relevantes serviços vem prestando à nossa população, acaba de adquirir material cirúrgico indispensável a boa execução dos serviços hospitalares. Ultimamente, já têm feito ali innumeras operações, quase todas de alta cirurgia, não havendo siquer um mau exito a constatar.”. O Provedor da época era José Maria do Amaral.
Em 1929 o provedor da época Mario de Aguiar Pupo, contanto com o apoio de Elizeu Augusto Teixeira, Luiz Chiaradia e Carlos Schmidt de Barros lançou nova campanha contando com a sensibilidade da população e dos donos de lavoura, solicitando novas contribuições para a construção de um novo hospital, tal situação foi bem-sucedida. O novo hospital seria dividido em três andares. Siqueira em sua obra descreve: “ Apesar de suas mil hipóteses, não é facultado ao homem prever a incógnita do futuro, e ao provedor Mario de Aguiar Pupo, que assumiu o cargo em 1929, estava reservada a complicada e urgente tarefa de evolucionar em toda a sua estrutura as disposições hospitalares.” 
A obra foi projetada de maneira graciosa pelo engenheiro Dr. Luiz M. Resende Peuch tendo como administrador da obra o senhor Dr. José Alves Aranha sendo a pedra fundamental lançada em 18 de outubro de 1931 sendo os executores da obra os senhores Gennarino Di Lello e Francisco Michele.
Como a obra seria executada no mesmo local do antigo hospital este foi sendo demolido paulatinamente assim que as obras avançavam.         
 

 
  
 Além das doações o hospital também realizava sorteios de bens e tômbolas para angariar fundos, tentava de todas as formas arrecadar os recursos financeiros para a construção de uma obra que até então era ambiciosa para o município.


Sendo a ala esquerda do hospital inaugurada em 1 de janeiro de 1933 as 2 horas e trinta minutos que consistia em uma procissão que tinha como ponto inicial a Igreja Matriz onde o padre José Maria da Silva Paes ao chegar ao Hospital Casa Pia São Vicente de Paulo faria sua benção. “Povo de São Manuel! Não deveis faltar a essa empolgante inauguração. Ficareis maravilhado com a obra gigantesca do hospital, o que representa apenas um terço daquilo que vai ser o maior orgulho nosso.” Desta forma empolgada o Jornal O Liberal convoca a todos.

O livro comemorativo aos 108 anos da cidade descreveu que as obras do Hospital como conhecemos hoje foram concluídas em agosto de 1953, sendo construído 4772 metros quadrados. Foi uma grandiosa obra.
Destaque-se o auxílio financeiro importante de José Manuel Pupo e das Irmãs Cintra, dentre várias doações importantes também Siqueira destaca: “ (...) e procedente do inventário das irmãs Valeriana, Jacinta e Delfina Campos Cintra, Cr$1.989.560,00 ofertado por Jose Manuel Pupo, Legatário daquele arrolamento, que num gesto filantrópico renunciou àquele alto valor destinando-se ao socorro dos necessitados”. Diante deste gestou em assembleia realizado em 28 de janeiro de 1945, Jose Manuel Pupo recebeu o título de presidente vitalício da Casa Pia São Vicente de Paulo.
 
 A família Cintra era do Município de Amparo, as irmãs Cintra eram sobrinhas do Barão de Campinas, bastante abastadas ajudaram também outras entidades como o Hospital de São Paulo, a criação do Hospital Ana Cintra em Amparo.
Delfina Cintra, Jacintha Cintra que foi tesoureira da Irmandade Coração de Jesus em Amparo e Valeriana Cintra juntamente com Jose Manuel Pupo foram grandes incentivadores a construção do novo hospital.
As irmãs Cintra tinham como irmãos: 
O Coronel Joaquim Manuel de Campos Pinto que faleceu aos 75 anos de idade no dia 26 de junho de 1906, era grande lavrador em Itapira natural de Amparo, casado com Maria B. de Araujo Pinto tendo os filhos Etelvina Pinto da Rocha Campos que era casada com o advogado Arlindo da Rocha Campos e José Manuel Cintra que era lavrador em Bauru, casado com Irene Lion Cintra;
Joao Batista de Campos Cintra casado com Maria do Carmo Cintra falecida em 3 de agosto de 1919;
Anna Bernardina de Campos casada com Joaquim Ignacio da Silveira;
Elysea de Campos Vergueiro casada com Arthur Nicolau Verguerio;
Maria da Silveira Pupo casada com Ignacio da Silveira Paupo;
José Ignácio de Campos Cintra casado com  Francisca Scares Cintra;
Sebastião de Campos Cintra.
Não consta em nenhum relato que a três irmãs se casaram o que ressalta a hipótese de tais viverem solteiras até o fim da vida ainda, ressalte-se que uma delas era noviça. 
  



 

Em 1985 um incêndio destruiu parcialmente o prédio, assim se mobilizou toda a comunidade novamente para a reconstrução do prédio que perdurou por 2 anos.


Deve-se aqui ressaltar o esforço de pessoas que realmente pensaram no município. A construção deste hospital é sobretudo uma obra social que perpetua até hoje oferecendo a caridade aos são-manuelenses.

Não ressaltar nomes a este opúsculo seria uma heresia, vez que a construção desta obra se sobrepõe as paredes, é mais que isso. É uma história contada com muita envergadura de cidadãos que fizeram e fazem um sonho mais que social, mais que da alma, transpõem os horizontes da dignidade humana. Na verdade, é uma história que acalenta, acomoda mesmo o ser humano com toda caridade do coração. É uma história que começamos pelo meio, contamos o começo, e espero que nunca tenha um fim, simplesmente que tenha o fim da assistência. Aos nomes, as pessoas devemos ressaltar um conjunto que se tornou único, o conjunto chamado população que unida construiu sem sombra de dúvidas o maior exemplo de humanidade que um local pode ter. A estes bravos, gratidão somente não basta é necessário reconhecimento.     

 














16/08/2016

1949 – São Manuel fez parte do circuito automobilístico


A importância de São Manuel não se pautava somente na política, também nos meandros esportivos, a cidade foi palco de uma das maiores provas automobilísticas da época. Tinha ouvido de muitas pessoas este feito, no entanto, ao que cabe o dever da pesquisa, evidenciei que os fatos narrados pelos mais antigos se pautam na pura verdade. Não era uma lenda, uma invenção.
  Nos dias 8, 9 e 10 de dezembro de 1949 foi realizada a “Prova Automobilística Washington Luiz”, patrocinada pelo Automóvel Clube do Brasil, era uma prova automobilística que passava por diversos municípios do Estado de São Paulo totalizando 1210 quilômetros que consistia sua largada de São Paulo, passando por São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Sorocaba, e por diversas cidades que ficavam no percurso entre elas o Município de São Manuel.
Dentre os 41 pilotos devemos destacar o campeão Chico Landi. A saída foi dada de forma simbólica dia 8 de dezembro no Vale do Anhangabaú pelo governador paulista, já na Via Anchieta foi promovida a saída oficial.
O piloto Chico Landi se sagrou campeão da primeira etapa que terminou em São José do Rio Preto.  No entanto na segunda etapa ao chegar no Município de São Manuel por volta de onze horas uma tragédia ocorre, tal episódio foi descrito pelo Jornal de Noticia da capital que dizia: “O consagrado volante patrício Francisco Landi não foi feliz na sua passagem por esta cidade. Disputando o 2º lugar na rua Batista Martins ao virar para entrar na rua Epitácio Pessoa, devido a um desarranjo, este volante viu-se obrigado a bater violentamente com o carro na parede do prédio nº 298, afim de não atropelar os assistentes postados nesta esquina.” Não se sabe exatamente o que aconteceu com o piloto para perder o controle, o Jornal O Diário Carioca descreve: “Chico Landi que mantinha a dianteira ao chegar em São Manuel em alta velocidade, foi cercado pela multidão. Para não fazer numerosas vítimas entre o povo jogou o carro contra a parede.” Na verdade, o que pode ter ocorrido foi a falha nos freios, O Jornal Folha da Manhã através de seu enviado especial Aroldo Chiorino descreveu com riqueza de detalhes o fatal acidente: “Os carros já estavam chegando a São Manuel e para tal, desciam uma forte ladeira que dá acesso à praça principal. Apontou o veículo de Chico Landi e quando o renomado volante solicitou os freios estes falharam inteiramente. No fim da ladeira se poitava enorme multidão, para assistir à chegada dos carros. Vendo o perigo, Chico Landi tratou de parar a sua máquina de qualquer maneira e sua primeira manobra foi no sentido de escorá-la contra o meio fio. Esterçou o veículo, mas os pneus derraparam, e o carro prosseguiu na sua marca. Landi divisou um poste à sua frente e ajeitando o carro quis pará-lo de lado, mas novo insucesso lhe estava reservado, pois o carro escorregou, perdendo então a maçaneta. Já então a situação era desesperadora e a multidão estava ameaçada Landi então lançou mão do último recurso abalroar a parede de uma casa. Foi o que fez.”
Deste infeliz acidente uma vítima não escapou, foi o colono da Fazenda São Luiz o senhor Olegário dos Santos, segundo os relatos nem pretendia assistir a prova, viera a cidade com sua esposa e cinco filhos para fazer compras, no acidente foi prensado contra a parede e morreu no local. “Menos feliz foi o lavrador Oligário dos Santos, (...), que se achava, no momento encostado á parede desse prédio, tendo sido imprensado entre o carro e a mesma, vindo a falecer instantes após.”  Jornal de Notícias. Chico Landi ficou ferido também, mais nada grave sendo encaminhado ao Hospital Casa Pia São Vicente de Paulo recebendo assistência. O piloto ficou abalado com o acontecimento, ao Jornal Folha da Noite ele disse:
       “Não fosse a precipitação, nada compressível do colono, e agora não estaria eu neste estado, e todos lamentando uma preciosa vida. Bastaria que a vítima tivesse parado, quando eu dirigia o carro para que não fosse alcançada. Ou então que seguisse o exemplo de sua mulher e seus filhos, correndo para baixo.  Mas ele fez justamente o contrário. Foi terrível, pois meteu-se debaixo do carro quando eu nada poderia fazer.”  
Chico Landi desistiu da prova, o local do trágico acidente existe até hoje com a mesma esquina, o mesmo número, o mesmo poste, algumas alterações mais o mesmo prédio. Tal episódio descrito é contado por todos são-manuelenses mais antigos.



























































Aqui estampamos os fatos ocorridos mostrando não somente um acidente embora evidente que uma vida se perdeu, mas sobretudo mostramos a importância de um município que recebia uma prova automobilística onde os principais pilotos do Brasil passaram por este chão.  


09/08/2016

FABRICA DE LICORES E REFRESCOS ETTORE TARGA - 1940





        ETORE TARGA - Nascido no ano de 1911,  era proprietário da Fabrica de  Licores e Refrescos Ettore Targa foi também Consul Italiano em São Manuel, casou-se com Marietta Targa.  Pai de Irides Targa casada com Silverio de Castro Lagreca este cirurgião dentista na capital, Ignez Targa casou-se com Arnaldo de Genaro ele dentista em Bauru, Plinio Targa se formou medico em 1936, colando grau na Universidade do Rio de Janeiro.


ALVARÁ - GUARANA SÃO MANUEL





ALVARÁ - GUARANA RADIO CLUB.





ALVARÁ - SODA LIMONADA.




FONTE DE PESQUISA - MUSEU HISTÓRICO PEDAGÓGICO - 
PADRE MANUEL DA NÓBREGA - SÃO MANUEL - SP

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09/06/2016

"SINCRETISMO DE ALMA"



 Se existe algo realmente do qual eu necessito, minha alma pede, meu coração exige, meu emocional implora e meus poros reclamam; certamente são as longas conversas. 
  Tive a impactante surpresa de ter há alguns dias, um antigo apelido ressurgido, trazido de outras cinzas de um outro tempo de um outro espaço:  ""nega""!
 Já haviam me chamado assim antes, há ainda quem assim me chame.
 Mas as palavras, dependendo de da vontade de quem as profere, são dotadas da magia de carregar e dispersar as energias do momento.  E no decorrer dessa conversa, ""nega"", soou como um mantra oriundo de paragens africanas, navios negreiros, porões corrompidos pelo cativeiro, cânticos assustadoramente belos, desesperadamente sedutores renascendo em lendas,
 Negritude de suores e sal.  Negritude de sensuais e surreais lamentos.  Meiguice em gemidos transtornados pelo tempo! Santa raça de forças sobrenaturais. Mística raça que carrega consigo ancestrais e orixás. Magna força mansa em silenciosa batalha de murmurantes inglórios, bailando em águas turbulentas.
Corpos untados... perfumados... brilhantes, serpentes escorregadias, transformando-se em braços e pernas evocados para cumprir rituais.  Alguns de encantamento.  Outros de entrega desabando em amar... Culto ao mar! Sensualidade do sagrado!
Algo me enviou velozmente para os seios de minhas antigas mães.  Fartura de conhecimento em leite! Faminto deleite!
Encontrei almas de negros e negras. E eu ""nega""!  Descendente em apostolado, em oculto aprendizado!
 Em meus ouvidos espirituais, a voz do tempo me chama insistentemente: ""nega""!!! E escorrendo sob o vibrar de misteriosa fala, ecos de tambores e atabaques me consomem.  Ousada viagem.
Chegam como longínquos e ritmados rumores, águas de amores, medos de solidão, prazer em profusão!
 Preces dispersas dos milenares orixás...
Velinhas boiando em minhas mãos ecumênicas, carrego seculares crenças.  Resquícios da umbanda! Contas reverenciadas em cachoeiras! Ensurdecedor amor pela natureza.  Ah! Força da mãe lua! Rege-me!  Guia-me!
 Me encanta oxum das águas, mostre-se que eu vim lhe ver, ver que o lírio é você!
Outras contas transparentes se entrelaçam e, despejam-se entre meus dedos, arrematando-se em cruzes cristãs! Rapidamente minha alma registra o velho rosário de contas naturais que meu avô Lourenço fazia e usava sob a camisa. Transmuto-me para a sala de minha avó e Madrinha, e a vejo com o rádio ligado, a toalhinha branca sob o copo com sobre água e óleo...
Quantos tons de dourado!  O sol das 15 horas rasga a sala partindo-a em duas... mais tons de ouro em luz... minha dimensão é a dela! Um grito alucinante de minha mais profunda memória me faz reconhecer a fala de padre Vitor Coelho em sua consagração à nossa senhora aparecida.  Choro e percebo que ninguém evangelizou melhor e mais lindamente!

 Ressurjo agora imensamente negra de tambores!
 Desnuda índia de rituais e feitiços mágicos!
 Misticamente embebida de rituais católicos!
 Encantadoramente embalada por orixás e ancestrais!
 Milagrosamente redimindo-me de mim mesma!
 Amando... gritando... reverenciando as diversas manifestações do sagrado... E iniciando as minhas viagens astrais!
Negra eu! Negro meu pai!


POR CÉLIA MOTTA


ALDO CHIORATTO - O BOMBARDEIO DE CAMPINAS


      Por Amanda Cotrim - No dia 18 de setembro de 1932, um domingo, a cidade de Campinas, no interior de São Paulo, era bombardeada pelo governo provisório de Getúlio Vargas. Foram vários dias de sobrevoo no Município com panfletagem de um governo que tentava convencer os paulistas que a guerra de São Paulo era separatista. Nesse domingo, um menino escoteiro, 10 anos, de nome Aldo Chioratto, mensageiro do exército paulista, pegaria um trem até Sumaré (cidade vizinha). Pegaria. Aldo foi assassinado durante o bombardeio. Quem decidiu resgatar essa história e, conseqüentemente, o papel da cidade de Campinas na Revolução de 1932, foi o jornalista e docente no curso de Jornalismo da PUC-Campinas, Prof. Me. Saviani Rey. Segundo ele, essa memória é “ocultada” dos campineiros, que não sabem, por exemplo, que a cidade exportou dois mil voluntários que lutaram e morreram na Guerra Paulista. O livro “O Menino Herói da Guerra Paulista – o bombardeio de Campinas” traz elementos literários para contar uma história que é real: existiu um bombardeio em Campinas que vitimou um menino, cujo caminho foi atravessado pela História. O material foi editado pela editora Pontes.

POR CARLOS ZERBINATI